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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mudanças

Dentre as mudanças que obrigatoriamente acontecem na vida de um lesionado medular, sem dúvidas uma das mais complexas, tanto para reabilitar como para a adaptação, é a função excretora (em destaque no caso o tetraplégico).
O aparelho urinário, como toda a cintura pélvica, não recebem ordens do cérebro  devido o rompimento dos nervos espinhais por onde é feito a  transmissão. Isso faz com que  a bexiga  contraia o tempo todo causando perda da  urina e um enorme desconforto. Nesse caso o paciente obrigatoriamente necessita utilizar uma sonda direta da bexiga à um coletor externo. O que esteticamente é deprimente além de se tornar canal aberto à infecções urinarias. Mesmo sendo substituídas semanalmente.
Com a reabilitação o paciente se reeuduca mudando radicalmente seus hábitos. No Sarah kubitschek com a realização de vários exames, é mensurado a capacidade de armazenamento da bexiga e o treinamento para excretar a urina, além de testes com medicamentos que visam inibir as contrações da bexiga, evitando a perda urinária. 
Feito isso, vem o aprendizado para excreção através da sonda de alívio (cateterismo). O primeiro sinal para se saber quando fazer o esvaziamento se dá pela sensação de desconforto. Começa com arrepios e em seguida a alteração da pressão arterial. Caso não seja obedecido tais sinais de alarme, corre-se o risco de  voltar as perdas ou  a necrose dos rins.
São vários os cuidados para a realização da sonda de alívio. Primeiramente a lavagem das mãos e o isolamento do registro da torneira com guardanapos ou outro papel esterilizado. A higienização do orifício (entrada uretra) pode ser feito com gaze,  agua boricada ou agua limpa e sabão neutro. Feito isso, novamente lava-se as mãos, injeta um gel a base de xilocaína na uretra para facilitar a entrada da sonda e por fim a introdução da sonda. Caso não haja água, pode-se utilizar álcool gel para a lavagem das mãos.
Esse procedimento é feito cinco vezes ao dia. Ou seja: durante o dia a cada quatro horas e a noite a cada seis horas. 
Pode até parecer incômodo, E as vezes é, porém,  a qualidade de vida não tem preço, pois além da estética e da higiene, evita a formação de cálculos na bexiga que abrigará colônias de bactérias. Com o tempo esse ritual  passa ser habitual. 
Todo paraplégico leva na mochila o chamado kit-cat: uma toalha dobrada contendo no seu interior: um pacote de gaze esterilizada, um tubo de gel, sacos próprios para descartes, sondas, agua boricada, álcool gel e guardanapos.
Quanto a excreção do intestino, resume em uma alimentação balanceada rica em fibras e a reeducação habitual. No entanto é mais simples que a primeira.
 Deus nos fez perfeitos. Prova disso é a capacidade de adaptação para sobrevivência no cotidiano.
Glórias a ele por sua grandeza!!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

UM ANO DE LUTA

Quando sofremos uma perda,  por mais que os resultados estejam a nossa frente e comprovam que uma nova direção terá que ser tomada, ainda assim, esperamos acordar no dia seguinte e ter de volta o que nos foi tirado.
Não é diferente quando se trata de perda com limitações físicas. A cada manhã nossas esperanças se renovam e temos a certeza que se hoje não veio, amanhã com certeza acontecerá.
A psicologia das emergencias aborda os efeitos relacionados ao trauma e explica que todos os grupos sociais aos quais fazemos parte também sofrem danos irreparáveis quando nos acontece um advento. Segundo algumas pesquisas e depoimentos de pessoas que sofreram tais danos, a classificação se dá na seguinte ordem: primeiramente a vitima seguida da família, pessoas pessoas que preseciaram  o fato seguido dos profissionais de segurança ou saúde que prestaram o socorro.
Assim como o traumatizado, pessoas a sua volta também tem pressa. Algumas delas, a cada reencontro querem resultados visíveis. Outras mais cautelosas, encorajam e comemoram os avanços, por mínimos que pareçam. Minha mãe durante os primeiros oito meses, sempre que me visitava pegava no dedo mínimo do meu pé e perguntava se já sentia o toque.
Há também os chamados "dias maus" que dificultam ainda mais. Por mais seguro que estejamos e temos apoio de família e amigos, somos tomados por uma ansiedade e parece que um turbilhão fisiológico surge em nosso íntimo, tornando as coisas ainda mais difíceis. A fé, esperança e força     vontade desabam. Em seguida sentimos os efeitos colaterais: A chamada síndrome  imune-depressiva faz com o sistema de defesa do organismo baixe perante tais reações nos deixando vulneráveis a doenças como gripe, infecções urinárias, gastrites entre outras.
Outro grande problema são as comparações. Pessoas ignorantes ao assunto, sem fé e ainda por cima indiscretas, desconhecem algumas leis físicas e espirituais e querem que tenhamos reações e ações semelhantes a casos indivíduos que acompanharam ou simplesmente ouviram falar. E muitas vezes nos desanimam ao ponto de não mais ter-mos certeza do tão esperado progresso.
No meu caso, quando completou um ano de lesão, foi como que estivesse dormindo um profundo sono e que só agora tivesse um insight... a caminhada está apenas começando. Não posso retroceder.
Estou fortalecido. Meus verdadeiros amigos e minha família venceram esta etapa comigo. Não me abandonaram, ao contrário, estão mais próximos que antes. Minha fé voltou a crescer e com ela a segurança. 
Começa então uma nova etapa que é a da consciencia. Sei que preciso fazer algo pelas pessoas. Não posso ficar inerte, pois tenho muito à doar.


"Porque ainda um pouquinho de tempo. E o que tiver que vir, virá, e não tardará.
O justo viverá da fé. E se retroceder, A minha alma não tem prazer nele"diz o Senhor.(Hebreus 10: 37-38)...